BeReal e TikTok: como Geração Z está mudando a dinâmica das redes sociais para todos
Cansada dos conteúdos planejados, a Gen Z mostra um novo comportamento frente às redes sociais, causando ajustes drásticos nas plataformas
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Carla Trabazo
Sabemos que a Geração Z mal atingiu a maioridade e já saiu criando uma série de novos comportamentos, tendências e interesses de consumo. E a interação com as redes sociais não fugiu do inevitável crivo dessa galera.
Os nascidos entre 1995 e 2010 têm o costume de usar uma série de aplicativos e redes sociais menores, cada um com funções bem específicas, ao contrário de outras gerações, as quais dão preferência a plataformas que englobem várias propostas ao mesmo tempo.
Em um recente estudo do Pew Research Center, porém, percebeu-se que a Gen Z é o único recorte demográfico onde o uso de redes sociais caiu nos últimos anos, com exceção, claro, do queridinho TikTok.
As hierarquias sociais causadas por décadas de “curtidas” e “compartilhamentos”, os caça-cliques e recursos de engajamento, além da recente preocupação com a privacidade digital extrapolaram a curta paciência dos usuários Gen Z. Agora, eles mostram uma debandada em busca de autenticidade e espontaneidade, em uma – não tão – silenciosa aversão às redes cada vez mais planejadas, maquiadas e mecanizadas (sim, Instagram, estamos falando de você).
Essa reação está moldando a forma como os aplicativos se comportam. Ao mesmo tempo em que os “stories” foram adotados em praticamente todas as redes sociais do planeta, surgiram aos montes os recursos de postagem em formato “close friends” (os amigos próximos), opção bem recebida desde as figuras mais públicas da atualidade até os usuários mais reservados.
E se engana quem acha que essas novas interações ficam apenas no campo das redes sociais. A chegada do TikTok e seu bem-sucedido algoritmo, o qual rechaça a ideia de entupir o usuário com o mesmo assunto que demonstrou interesse, tem impactado ferramentas de busca como o Google, que declarou que cerca de 40% da Geração Z prefere encontrar informação em plataformas visuais, como TikTok e Instagram.
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Se de um lado temos o Google preocupado com as mudanças de comportamento, por outro vemos gigantes da tecnologia buscando se distanciar da problemática que o conceito “rede social” tem despertado na indústria, principalmente com o crivo de reguladores no Facebook e as crescentes queixas contra conteúdos cada vez mais planejados e marketeiros.
O TikTok se autodenomina uma “plataforma de entretenimento”, o Snapchat se considera uma “empresa de câmeras” e a Meta passou a declarar-se uma “empresa do metaverso”. E é nessa configuração que chega na história o BeReal, uma plataforma que afirma “não ser mais uma rede social”, angariando um sucesso mundial em pouco tempo de vida.
Lançado na França ainda em 2020, a proposta do BeReal é ir na contramão dos atuais aplicativos, permitindo a publicação de apenas uma foto por dia, em um horário aleatório disparado por uma notificação no celular, sem filtros ou planejamento. Na descrição, os criadores prometem: “BeReal desafiará sua criatividade, permitindo que mostre a seus amigos quem você realmente é”.
O aplicativo já conquistou o coração da Gen Z estadunidense e aparece em ritmo crescente entre o público brasileiro, figurando entre os mais baixados nas lojas de apps, além de uma alta expressiva nas buscas do Google. Somente em 2022, a rede teve um aumento em 400% de downloads, alcançando 3 milhões de usuários.
A agilidade de uso, somada às poucas funcionalidades são prato cheio para sua disseminação. Para além disso, esta é uma rede social que, a princípio, oferece um espaço ideal para quem não quer ser impactado por conteúdos engessados de influenciadores, mas sim por formatos mais intimistas e exclusivos, sem aquela caça insalubre por curtidas – um dos objetivos iniciais do Instagram.
O interesse por essa proposta pode parecer estranho, vindo de uma geração que sonha em ser criadora de conteúdo para as mais diversas plataformas (tiktoker, youtuber, streamer…), mas como dito ao início desse texto, os Gen Z têm objetivos muito específicos ao usar cada um dos seus aplicativos.
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Se a Twitch é o espaço de preferência para live-streamings e games, o Discord é voltado para grupos privados de conversa em áudio e texto, o TikTok para novos conteúdos e tendências de entretenimento e informação, nada mais natural que ter o BeReal para uma conexão mais “silenciosa” com sua rede de contatos.
Somado a isso, vemos também o surgimento do Poparazzi, a rede social “inimiga da selfie”. Lançado há pouco mais de um ano, o aplicativo propõe o compartilhamento de fotos que registram “momentos autênticos” e não permite o uso da câmera frontal. “Você é o paparazzi do seu amigo e eles são os seus”, descreve o site oficial, que também aboliu as legendas, hashtags, comentários ou número de seguidores e atualmente figura no topo dos apps mais baixados nos Estados Unidos.
Estamos, talvez, chegando a um ciclo completo das redes sociais, onde as interações e a autenticidade tomam o lugar do conteúdo maquiado. A diferença, porém, é que todas podem vir a ter um espaço ao sol, em contrapartida àquelas que foram abocanhadas ou copiadas na totalidade. O finado Orkut que o diga.