Slow content, o que é e porque é uma tendência para as marcas?
Movimento ganha força ao se conectar com os impactos da saúde mental digital e da infotoxicação
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Patrícia Carneiro
O conteúdo lento é um movimento que iniciou sua emergência como uma resposta à sociedade da hiperaceleração, e seus reflexos (principalmente relacionados à saúde mental) nos dois últimos anos pós pandemia.
Inicialmente conectado à exaustão dos criadores perante a relação com as redes sociais em um processo de produção de conteúdo em quantidade, superficialidade, e instantaneidade com um mood de urgência, vem ganhando espaço como uma tendência na relação tanto de produção quanto de conteúdo, estabelecendo conexão direta com os efeitos na saúde mental digital e na infotoxicação.
O movimento de slow content se inspira no Slow Living e surge como uma nova forma de relação com o conteúdo mediatizado pelas redes e canais sociais, onde se prioriza qualidade, profundidade e propósito.
No final das contas, não deixa de ser um chamado para criadores e público desacelerarem quando o assunto é conteúdo digital, confiante assim para uma relação mais relax com o que a gente lê, ouve e assiste em diferentes telas.
É aquele conteúdo que pede um tempo para deixar a ideia assentar antes de passar para o próximo. O movimento nos convida a se permitir fazer isso. Na prática, é um contramovimento a crescente do dilema das redes.
Como movimento, o conteúdo lento propõe 10 pilares:
1. Mais qualidade, menos quantidade
2. Mais profundidade, menos frases de efeito
3. Mais criatividade, menos modismos
4. Mais palavras que enriqueçam o conteúdo, menos termos simplistas
5. Mais beleza e ideias surpreendentes, menos pragmatismo
6. Mais foco no propósito, menos foco no lucro
7. Mais liberdade nos formatos, menos dogmas sobre conteúdos curtos
8. Mais pessoa, menos consumidor
9. Mais reflexão, menos rapidez
10. Mais tradição, menos convenção
*Livre tradução do inglês
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Na verdade, estamos falando sobre experimentar outra relação com o conteúdo, criando com o objetivo de construir vínculos de longo prazo e entendendo as pessoas para além de consumidores de informação rápida.
Acho tudo isso muito potente, mas assim como você, tenho me perguntado: e o que significa esta tendência no cotidiano da estratégia das marcas?
Vejo dois grandes eixos:
1. A adoção de Slow Content em projetos onde se contam histórias, onde se promovem vínculo com as pessoas em produções criativas de séries, livros, podcasts e formatos de maior relação que provoquem a reflexão e experiências de storytelling;
2. E um segundo movimento, de calendários menos acelerados, onde a mensagem não provoque sensação de urgência, mas sim provoque sentimentos de relaxamento e espaços de prazer e interação.
Ainda uma tendência em ascensão, alvo de debate no último Festival do Clube de Criação de 2022, o Slow content irá se colocar como um desafio para as marcas, pois trata de enfrentar um objeto que falam pouco em nossa indústria: o resíduo e impacto das mensagens e criações que fazemos hoje nas mídias em geral. Ao mesmo tempo que nos provoca a esta reflexão, nos induz à disrupção criativa para formatos que nos ajudam a estabelecer um ambiente mais seguro e saudável na relação com os conteúdos.
Muito se fala do conceito, mas aqui queremos trazer nesta reflexão alguns exemplos de mar- cas que têm apostado nesta estratégia, como o Spotify e o projeto Mano a Mano, que com conteúdos qualificados, temporadas bem desenhadas estrategicamente se tornou em menos de um ano o segundo podcast mais ouvido no Brasil, com temas profundos como antirracismo, política e cultura. E a campanha da Kuat, que após 10 anos fora da mídia voltou contando a história das conexões com as comidas, as cores e as danças dos brasileiros.
O fato é que o slow content nos convida a desacelerar a produção de conteúdo instantâneo e superficial para apostar em construir narrativas que mudam a relação das pessoas com as mensagens.
Sua marca está pronta para este novo desafio?