Onde está o Júnior?
Ele não só é encontrado em todas as agências, como tomou conta de quase todas as cadeiras dos clientes
Luis Constantino para Meio & Mensagem
Não, não estou procurando o parceiro e irmão da Sandy, que acabou de voltar aos palcos. Nem o astro do Flamengo que se aposentou há décadas. Também não estou falando do marido da Xuxa. Não, pera, esse é o Junno. Na verdade, o Júnior a que me refiro não precisa procurar: ultimamente, ele está em todos os lugares.
Algum tempo atrás, os clientes costumavam dizer que ele habitava em todas as agências, porém, não mostrava sua cara logo no primeiro encontro. Revelava seu endereço e identidade somente após a concorrência, quando todos os seniores envolvidos na conquista da conta tiravam suas brilhantes e caras mentes de cena para dar lugar a ele, o Júnior.
Há algum tempo, o Júnior expandiu seu endereço. Ele não só é encontrado em todas as agências, como tomou conta de quase todas as cadeiras dos clientes. E isso não é ruim.
O Júnior traz leveza, oferece um olhar jovem que todas as marcas precisam, ele enxerga o que os seniores nem com óculos conseguem ver.
O Júnior é ambicioso, tem sangue nos olhos e não tem medo de errar, mas ele também tem uma certa dose de despretensão. Se aquilo não der certo, ele parte pra outra. Isso o faz um exímio quebrador de regras, conceitos e paradigmas, coisas que marcas também estão precisando. O Júnior é criativo, é rápido na solução e no pensamento. Se adapta facilmente, pois cresceu num mundo plural, multidisciplinar, multitela, multitarefa. Ele é pau pra toda obra — se é que essa expressão é do seu tempo. O Júnior tem tudo isso, mas ele não tem uma coisa essencial para nossa vida profissional: bagagem.
Quem já tem uma quilometragem alta, traz na bagagem muitas histórias, experiências, sucessos, fracassos e aprendizados que só o tempo pode oferecer. E por mais que o Júnior tenha ambição e força de vontade, isso ele não pode ter. Não hoje. Por isso, o Júnior não trabalha bem na zona cinza. Quando ele está lá, só atrasa a vida.
Para quem não sabe, a zona cinza é aquela faixa nebulosa de hierarquia, autonomia e responsabilidades onde muitos Juniores se encontram. Empresas reduzem e otimizam seus quadros, o trabalho se multiplica e o Sênior confere ao Júnior mais e mais responsabilidades e envolvimento na condução da marca, mas esquece de definir até onde o Júnior pode ir e, então, ele se vê na zona cinza.
Lá, o Júnior faz o briefing, orienta todas as partes envolvidas, participa na concepção, evolui o trabalho, faz inúmeras rodadas de ajustes até o trabalho tomar forma — a sua forma. E, quando isso acontece, ele sai da zona cinza, leva o trabalho para o Sênior aprovar e descobre que seu superior pensa completamente diferente dele e volta para a zona cinza com o pedido de recriar tudo. Esse ciclo é muito ineficiente para todos.
Por essa razão, faço um pedido ousado ao Sênior: dê autonomia ao Júnior.
Mas, se você está inseguro, acha que o Júnior ainda não tem a quilometragem necessária para andar com suas próprias pernas, tenho uma sugestão ainda melhor que autonomia: ofereça ao Júnior formação. Você deve isso a ele. Dê ao Junior acesso à sua bagagem e, o mais importante, conceda a ele o seu envolvimento desde o início do projeto e, caminhando juntos, ambos crescerão com essa troca.
O Júnior e todos os envolvidos agradecem.