Onde o Future in Black e a Oliver se encontraram
Na visão de quem esteve lá, um evento corporativo para lideranças negras que tem mais vocação de abrir portas que fechar negócios. E essa é a magia que nos envolveu por 14 horas de um dia.
Eduardo Santos
Fiquei sabendo por amigos sobre a primeira edição do Future in Black. Ouvia deles um misto de euforia e orgulho, com gravidade e certeza de se tratar de uma coisa nova e potente. No entanto, achei que tivesse sido mais um evento corporativo, esse voltado para os meus, e que tinha tudo para dar certo.
Mas era mais. E bastou chegar o convite da edição de 2024 para entender que tinha muito mais ali.
Não quero me ater nesse texto ao desafiante objetivo do evento, traçado por dois idealizadores negros, à condução da mc Andreza Maia, nem aos incríveis palestrantes, que foram de Anielle Franco, ministra de igualdade racial do atual governo, Ana Minuto e Barbara Greene a Mauricio Rodrigues, Selma Moreira e a arrebatadora Rachel Maia. Tudo isso você pode encontrar em outros canais, coberturas e redes.
Escrevo sobre o impacto que o Future in Black teve em mim e nos que lá estiveram. Foram cerca de 1.000 pessoas pretas em comunhão, entregues a um compromisso de fazer de si um instrumento para que outros, como nós, possam alcançar lugares que nos foram negados por muito tempo. E que estamos alcançando graças a bastante trabalho, dedicação, esforço (de todas as sortes) e uma dose enorme de coragem. Sim, coragem. A mesma que nos leva a eventos onde produção, audiência e palestrantes são majoritariamente brancos. A mesma coragem que faz as mulheres negras não prenderem seus cabelos volumosos ao se sentarem na cadeira à frente. A mesma coragem que faz a gente não ceder ao protocolo de não cumprimentar fraternalmente um nosso que serve o café no hall das salas de conferência.
Se para você, que me lê agora, pareça situações frugais, não me oponho caso pare por aqui. Mas se me entende, este texto é para você.
Porque o Future in Black 2024, foi o espaço em que as trocas aconteceram com total isonomia, afinco e orgulho de si próprio e, principalmente, do outro, por saber que somos cada vez mais numerosos e melhor preparados, ocupando espaços que gerações anteriores pouco viram. Mais do que aquele que vinha do palco, trazido em temáticas e pessoas tão relevantes, o brilho estava também nos olhos de cada um de nós ao perceber a potência do outro, da outra. Olhos que se enchiam d’água a cada história, a cada relato, a cada formação elencada, a cada sucesso. E acredito que isso sempre foi o que quisemos: liberdade, parceria e cumplicidade para comemorar, entre nós, as nossas vitórias que, acreditar, nunca são pequenas.
Lá, revi e fiz amigos, comemorei com clientes queridos e com possíveis clientes, encontrei colegas parceiros, falei bastante e ouvi muito mais. Advogados, marketeiros, executivos, criadores de conteúdo, comunicadores, empreendedores, publicitários, bailarinos e tantos outros profissionais. Todos dispostos a trocar, a se conectar com e sem objetivos negociais, pelo simples fato de existirmos, muito além da planilha de recrutadores que não são capazes de nos encontrar além do LinkedIn. E nessa celebração perfeita, teve um happening final, onde os abraços foram ainda mais afetuosos e os sorrisos, ainda mais largos. Como diria Xis, na canção 6h da manhã, “só rap du bom, dancei, curti, joguei a mão pru céu, cantei, mó treta…”
Vi muito do que a Oliver hoje tenta trazer para suas iniciativas de DEI e de capacitação para os nossos times, e estou certo de que saio com lições de lá. Porque há tempos não me sentia tão bem em um evento corporativo. E só realizei o impacto dele quando, no dia seguinte, contei pros colegas e amigos pretos, num misto de euforia e orgulho com gravidade e certeza de se tratar de uma coisa nova e potente.
Para eles, assim como para mim, esse foi só o começo da espera até a próxima edição, onde, espero, possa encontrar também você.
Que venha o futuro.