Pandemia da Covid-19 desperta novos hábitos sociais e de consumo no Brasil, diz estudo
Estudo realizado pela in-house do Itaú mapeia fases da pandemia e novas tendências no comportamento do brasileiro
A pandemia da Covid-19 levou a uma série de ações, reações e consequências das quais o mundo não estava preparado. A situação na maioria dos países ainda é terreno desconhecido e a avalanche de informações sobre o vírus pode deixar qualquer um desnorteado sobre o que fazer, mas uma coisa podemos afirmar nesse momento: as relações sociais e econômicas não serão mais as mesmas.
Pensando nisso, nossa equipe de tendências da in-house para o Itaú lançou um estudo que mapeia as fases da pandemia para a sociedade brasileira e como isso culmina na aceleração e no início de mudanças de comportamento. Intitulado “Reflexos da sociedade brasileira: como os hábitos se transformam em função da pandemia”, o documento analisou dados de países como China, Itália, Estados Unidos e Coreia do Sul, comparando medidas de proteção, reação popular e impactos econômicos para os diferentes momentos do surto.
Sendo o isolamento a primeira medida tomada na maior parte das nações, o estudo identificou comportamentos que vão desde rejeição e preocupação com a renda familiar até fotos virais de equipes médicas, conteúdos de humor e marcas embarcando no tema quarentena.
Em termos econômicos, os Estados têm buscado medidas de auxílio à população, injetando dinheiro em alguns setores. Segundo o relatório, “dados divulgados pela China – depois das medidas de fechar indústrias e comércios para controlar a pandemia – aumentam a possibilidade de uma recessão global. A UNCTAD prevê prejuízo de 2 tri na economia mundial. Já os países que dependem majoritariamente da venda de matérias-primas (ex: Brasil) apresentam uma situação delicada”.
Neste caso, a pandemia tem obrigado os países a “se voltarem para dentro” e a marcar maior presença governamental em seus territórios, causando novos tipos de relações entre população e governo. Entre as mudanças ressaltadas, destaca-se a vigilância mais acirrada e cuidadosa dos eleitores para a capacidade operacional de seus governantes e os resultados da crise; a cobrança por posicionamentos e propósitos mais demarcados, tal como as marcas já vivenciam; e o crescimento no debate sobre limites entre a necessidade de uma vigília mais ostensiva e a manutenção de direitos básicos da vida privada.
Fases sociais da pandemia
O estudo definiu quatro fases durante o surto da Covid-19, baseando-se em estudos de institutos de pesquisa em países que se encontram em etapas avançadas do processo: negação, tomada de consciência, quarentena total e recomeço.
No caso do Brasil, a sociedade encontra-se na etapa de tomada de consciência, onde há um alto consumo de notícias, necessidade de recorrer a ajustes financeiros, trabalho remoto incipiente, medo, evidência da diferença de classes e início do tédio.
Já para as fases seguintes, o brasileiros irão se deparar com novos hábitos de consumo e conectividade, cortes financeiros, abalo na saúde emocional e o sedentarismo para, em seguida, mergulhar em um processo de recomeço.
Para esta última fase, o relatório define como a chegada da “era da empatia”, onde a desigualdade social está ainda mais destacada, chegam novas metodologias de trabalho e gestão, novos hábitos de convívio e consumo e uma maior vigilância sobre temas de saúde e sustentabilidade.
“É chegado o momento em que aquele 1% ajude o resto da população e não faça as pessoas trabalharem a qualquer custo. É um momento de ter empatia e ajudar como podemos, nos colocando no lugar do outro e entendendo que o isolamento também é pra isso: nos resguardarmos como sociedade”, afirma Aline Santos, Supervisora de Tendências da in-house para o Itaú e quem encabeçou o estudo.
Serão observadas algumas frentes de ajuda após o período de quarentena, com foco aos micro e pequenos empreendedores (os quais são responsáveis por movimentar 27% do PIB nacional) e aos desfavorecidos economicamente, cujos 47,6% não têm acesso a saneamento básico, impedindo a higiene básica para combater a continuação do vírus.
Novos hábitos
O período pede por uma (re)educação da população. No Brasil, já se observam movimentações das próprias empresas e canais de comunicação para ressaltar hábitos de higiene, além de grandes doações de produtos e recursos por parte de marcas.
Na pós-pandemia, o estudo aposta no crescimento das “compras de experiência” como uma das maiores mudanças no consumo, afirmando que “82% dos chineses pretendem retomar as refeições na rua e 77% têm planos de investir em entretenimento fora de casa. Isso mostra que a pandemia acelerou uma mudança que já vinha acontecendo nos consumidores: experiências e não coisas”.
Outro ponto de virada no consumo observado durante e após a pandemia foi a prática de viver com menos, em contraponto com a fase de tomada de consciência para a existência da Covid-19, que despertou nas pessoas medo e a reação de estocar alimentos e produtos em casa.
“Quando acontece uma situação dessa, a gente é pego totalmente de surpresa. Muita gente foca no agora, mas precisamos pensar em como isso vai se prolongar, quais os resquícios que vão ficar depois. É como dar um passo atrás e olhar os possíveis cenários para um futuro bem próximo, logo depois da fase de isolamento”, explica Aline.